“Ainda Estou Aqui”: Lembrança de tempos ruins que não devem ser esquecidos

Atuação impecável de Fernanda Torres é ingrediente extra do longa que concorre ao Oscar

Era uma vez uma família com duas Fernandas, a Montenegro e a filha Torres, e um Fernando, o Torres, que já nos deixou. Além do talento incrível que todos eles compartilham, as duas mulheres têm mais algo em comum: ambas foram indicadas para o prêmio máximo que uma atriz pode almejar, o badalado Oscar. Por si só, isso mostra o potencial de mãe e filha.

Se a matriarca não levou o prêmio em 1999, a herdeira tem grandes chances de superá-la nesta noite. Protagonista do longa “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, que concorre às categorias de Melhor Filme e Melhor Filme Internacional, atriz tem uma atuação impecável no papel de Eunice Paiva, a esposa que enfrenta o drama de ter o marido levado pela ditadura e tem de conviver com a ausência dele e de qualquer tipo de explicação por muitos anos.

Rubens Paiva, cujo corpo nunca foi encontrado, foi preso em 1971. Vinte e cinco anos depois, Eunice finalmente obteve o reconhecimento do governo brasileiro e o atestado de óbito do esposo.

Independentemente do resultado de hoje, o filme é excepcional e obrigatório. Seja pelo roteiro, pelas atuações das Fernandas (sim, a Montenegro interpreta D. Eunice em idade mais avançada) e Selton Mello, pela trilha sonora ou pela adaptação primorosa do livro de autoria de Marcelo Rubens Paiva, que viveu de perto, ainda menino, essa barbárie.

Além de abrir portas para o verdadeiro cinema brasileiro no mundo, o longa nos emociona e leva à reflexão, lembrando tempos que gostaríamos, porém não devemos esquecer. Uma aula de como funcionava o regime truculento adotado na época e como devemos afastar o risco de termos um retrocesso nesse sentido. Ainda existem pessoas que pedem por isso, por incrível que possa parecer. Num momento conturbado e polarizado politicamente, alguns são massa de manobra, sem ao menos entender o motivo pelo qual defendem ideias obscuras. O próprio Marcelo sofreu uma tentativa de agressão covarde há alguns dias.

Voltando ao Oscar… Fernanda, Walter, Marcelo… grande parte dos brasileiros hoje se unem em uma só torcida por vocês. Boa sorte na disputa! Vocês já são vitoriosos, de qualquer forma. Cada um cumpriu, literalmente, seu papel, de forma magnífica.

Carlos Guerra

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