Gusttavo Lima candidato: A Roupa Nova do Embaixador tupiniquim

Suposta candidatura à presidência soa como deboche ao eleitor mais esclarecido

Em 1837, o dinamarquês Hans Christian Andersen publicava “A Roupa Nova do Imperador”, um conto que se tornaria um clássico da literatura. A pequena obra, na qual o autor faz uma crítica inteligente sobre a vaidade e os costumes da época, conta sobre um monarca que adorava ostentar com suas roupas extravagantes e caríssimas. Sabendo disso, dois forasteiros chegam ao reino, apresentando-se como tecelões, oferecendo uma roupa muito diferente para vossa majestade, feita com um tecido que apenas as pessoas inteligentes conseguiriam ver. O imperador, claro, caiu no golpe dos vigaristas, desembolsando uma pequena fortuna. Após dias confeccionando a vestimenta (ou seja, fazendo absolutamente nada), fizeram com que o homem, que se julgava sábio (apesar de não ver a roupa), desfilasse pelo reino da forma que veio ao mundo. Os ministros e os súditos nada comentavam, pois não queriam parecer desprovidos de inteligência ou confundidos com o bobo da corte. A farsa caiu quando uma criança, com toda a sua inocência, gritou “O Rei está nu!”, deixando o monarca em maus lençóis.

Se passaram quase dois séculos, mas a vaidade de alguns e os modismos continuam a ditar nossas regras. Bem longe da Dinamarca, há um país onde a decência não morreu, mas respira por aparelhos. O povo, cada vez mais castigado e emburrecido pelo sistema, aceita passivamente fatos que vão além da sua compreensão. 

Assim como no conto de Andersen, aqui surge a figura de um autoproclamado embaixador, que também gosta de ostentar (e tem todo o direito, diga-se de passagem). Figura popular, o cantor é querido por muitos e odiado por alguns. Suas canções, assim como sua mansão, são de gosto duvidoso. Crítico ferrenho da Lei Rouanet, já foi tema de debate público, em vários veículos de imprensa, que divulgaram cachês astronômicos em municípios que não têm dinheiro nem para o saneamento básico.

Eis que, há alguns dias, o sertanejo anuncia que pretende deixar de ser embaixador e tornar-se presidente da república. Um direito dele, é claro, afinal cumpre todas as condições de elegibilidade previstas na constituição. A declaração causou um rebuliço nos velhos políticos de plantão, aqueles do alto clero, e também nos recém-chegados. Os veteranos já o querem em seus partidos, ressaltando apenas que ainda falta preparo para o cargo de mandatário do país, mas que para vice ou senador seria uma boa pedida. Minimizando a responsabilidade, obviamente, de ambos os cargos, assim como a inteligência do eleitor. Um ex-coach, por outro lado, propõe  uma “dobradinha”, desde que o mesmo seja o candidato principal. Talvez se julgue mais preparado, com uma derrota em eleição municipal em seu vasto currículo político.

A verdade é que a suposta candidatura pode, e deve, fazer estragos no cenário nacional, devido à popularidade do cantor. Se o projeto irá virar realidade, saberemos nos próximos capítulos. O anúncio, por si só, soa como um deboche aos eleitores mais esclarecidos, por motivos pra lá de óbvios. Um escárnio, mesmo para todos que, como eu, já não aguentam as mesmas figuras no poder. Ao contrário do conto do genial dinamarquês, onde o monarca passa vergonha, desta vez quem pode estar nu é a parte do eleitorado que comprar a ideia.

Carlos Guerra

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