Lobão, Gustavo Mioto e o pobre sertanejo universitário
Cantores apontam, em entrevistas, a falta de qualidade do gênero
O que Lobão e Gustavo Mioto têm em comum? Até hoje, suspeitava que apenas a profissão. Agora já enxergo algo a mais: a sinceridade. Em entrevistas concedidas pelos dois, nos últimos dias, ambos criticaram o chamado “sertanejo universitário”. Foram abordagens diferentes, com tons bem distintos, porém com o mesmo recado.
Gustavo, para quem não sabe, é filho de Marcos Mioto, um dos maiores empresários e contratantes de shows sertanejos, que atua há décadas no negócio. Portanto, desde seu nascimento, vive nesse meio. Conhece o sertanejo tradicional e também o novo. Vivenciou de perto essa gigantesca mudança. De forma inteligente e sutil, tocou num ponto que eu, particularmente, venho repetindo há tempos: a falta de criatividade do gênero. “Eu acho que o sertanejo não tem caminhado em questão de qualidade. Não estou generalizando, mas a grande maioria tem copiado muito as coisas, tentado fazer mais do mesmo só pelo desespero de fazer dar certo“, afirmou o jovem cantor.
Já Lobão, sem tantos rodeios, soltou o verbo e, curiosamente, também mostrou uma opinião muito parecida com a minha, quando falo do “emburrecimento” do povo. “Fatalmente tem algum interesse econômico e político por trás disso. Não é possível isso se sustentar por tanto tempo. É uma aberração, uma deformidade estética, uma deformidade comportamental”, explica o veterano. “Você não precisa fazer uma coisa cafajeste, vagabunda, como o sexismo grotesco, onde a coisa assim, realmente é uma coisa muito de mau gosto. Um som horroroso. É um Frankenstein de muito mau gosto ”, completa.
Tenho absoluta certeza de que nada mudará após tais declarações, além de uma possível chuva de xingamentos de fãs mais exaltados nas redes do roqueiro.
O mercado musical continuará apostando em letras pobres e melodias horrendas, tudo feito em escala industrial. Mas a coragem de se colocar e falar o que muita gente pensa (e guarda para si) já é um bom começo, num país onde se costuma manter a sujeira sob o tapete.
Carlos Guerra