O centenário de Inezita Barroso e os caronistas de plantão

Brasil é um dos únicos países do mundo onde os ícones são reverenciados somente após a morte

Inezita Barroso, uma das figuras mais importantes da história da música sertaneja, completaria hoje 100 anos. Procuro por notas sobre o assunto em alguns grandes veículos da mídia, com pouco sucesso. Parece que não há grande importância no fato, para eles que se tornaram meros propagadores de fofocas, a serviço de assessorias de subcelebridades.

Não preciso discorrer aqui sobre a relevância de Inezita Barroso, conhecida como a “Dama da Música Caipira”, para a cultura sertaneja, . Defensora ferrenha das raízes, ela despontou, por seu talento e personalidade, num universo que ainda hoje é considerado machista.

Voltando à internet, encontro algumas homenagens nos sites da TV Cultura, Agência Brasil e SESCs. Pouco, muito pouco. Mas não é de causar grande surpresa. Afinal, neste paraíso tropical temos o costume de esquecer o legado da maioria dos grandes ícones, que por vezes ficam em segundo plano. O Brasil tem o estranho hábito de reverenciar os artistas (quando o faz) apenas após sua morte. Foi assim com Tinoco, Raul Seixas, Jamelão, Tião Carreiro. Nenhum deles deixou a família em situação cômoda. E são lembrados, principalmente, quando há algum interesse na jogada. 

Alguns artistas do presente, ainda, gostam de pegar “carona” nesses nomes, mesmo sem ter a intimidade que tanto pregam. Pura jogada comercial. É ilegal? Não. Imoral? Deixo que cada um de vocês reflita e opine. 

Pude conhecer Inezita, tivemos a honra de homenageá-la em vida. Estive na gravação de seu primeiro DVD, num palco improvisado em Campinas, interior de São Paulo. A cantora passou mal, inclusive, e a gravação teve de ser interrompida. Nos tempos de Porteira Paulista, ainda criamos o troféu “Inezita Barroso”, de forma pioneira. Acompanhamos a gravação do especial de 30 anos do “Viola, Minha Viola”, da TV Cultura. Assim como, de forma triste, compareci ao enterro de Tinoco. Não me recordo de encontrar muitas das pessoas que hoje tem a ideia de se autopromover com esses ídolos.

Claro que há figuras que realmente conviveram com Inezita e cuja admiração era recíproca. Cito algumas aqui… O Regional, banda que acompanhou a cantora por tantos anos, é uma delas. Joãozinho “Barroso”, violeiro e ser humano impecável, ganhou até o sobrenome famoso. Aloiso, que conheci nos bastidores da Cultura, também foi seu fiel escudeiro, até os últimos dias.

Inezita, que trabalhou de forma incansável pelo cancioneiro caipira, merece e sempre merecerá muito mais homenagens. Temos a obrigação de cultivar o seu grande legado.

Carlos Guerra 

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